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O tocador de flauta celestial


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Era uma vez anos atrás um homem que vivia no sopé da Montanha dos Cinco Dedos e que tocava flauta de bambu como ninguém. Os sons que dela extraía eram muito mais melodiosos do que o cantar do sabiá laranjeira, mais claros que o trinado do pintassilgo e mais variados do que o gorjear do canário da terra. Quando ele tocava, os pássaros paravam em pleno voo, os camponeses repousavam e abandonavam a enxada, os velhos sorriam sentindo-se rejuvenescidos e as crianças saltavam e dançavam de alegria. A sua música era a tal ponto excelsa, que o povo julgava que ele não devia ser um simples mortal e por isso lhe chamavam ‘o tocador de flauta celestial’.

Um dia, o Rei Dragão dos mares do sul ofereceu um banquete a muitos imortais. Vestido com a sua toga de dragão e um cinto de jade à cintura, sentou-se por entre os seus convidados, que estavam todos vestidos com roupas muito estranhas, mas cheias de esplendor. Ora, o tocador de flauta celestial, depois de ter caminhado durante dez dias e dez noites, chegou ali, à beira-mar, precisamente na altura em que decorria este banquete. Jogou a rede ao mar, que estava muito calmo naquele dia, sentou-se numa rocha e começou a tocar. O Rei Dragão ia nesse momento levantar a sua taça para fazer um brinde aos imortais ali presentes, quando ouviu aquela estranha e encantadora música. Os convidados ficaram tão surpresos que nem repararam que tinham uma taça na mão e todos a deixaram cair no chão, esquecendo-se de onde estavam, de tal maneira a música os cativava. O tocador de flauta celestial não sabia que eles o estavam ouvindo. Estes, por sua vez, pensaram que quem assim tocava devia ser um imortal como eles, que tivesse vindo agora do céu.

O Rei Dragão ficou tão maravilhado com aquela música encantadora que pensou em convidar o tocador para ensinar a seu filho e por isso seguiu na direção donde vinha a música, até que o encontrou. O tocador de flauta celestial aceitou o convite para ir ensinar ao filho do Rei Dragão e logo tirou a rede da água, enfiou a flauta de bambu no cinto e seguiu-o até seu palácio.

Mas, passados uns dias, ele começou a sentir saudade da sua terra. O tempo passava muito devagar e um dia parecia-lhe como um ano. Passados três anos, o príncipe tinha finalmente aprendido a tocar flauta, então o tocador de flauta celestial pediu ao Rei Dragão que o deixasse voltar para sua casa. O rei, muito contente por seu filho ter aprendido a tocar flauta, decidiu oferecer ao seu professor alguns presentes, e por isso disse ao filho que o levasse até a casa do tesouro para que ele escolhesse duas coisas que quisesse antes de partir.

O tocador de flauta celestial e o seu aluno entraram num grande salão onde o rei guardava todas as suas riquezas, que eram às centenas de milhares. Numa prateleira ele viu pedras preciosas de muitas cores – vermelhas, verdes, amarelas, azuis e violetas – que pesavam cada uma dez quilates e que tinham um brilho resplandecente. Na outra prateleira havia grandes e pesadas barras de ouro. Nas paredes estavam pendurados cestos de bambu de todos os tamanhos e num armário havia inúmeras capas de chuva, feitas de junco.

O tocador de flauta celestial deu uma volta pelo salão e depois parou diante dos cestos de bambu e pensou: “Se eu levar um destes cestos, já tenho onde carregar o peixe e os camarões quando vou à pesca”. E assim, agarrou num deles, de tamanho médio, e prendeu-o ao cinto. Depois deu mais uma volta e parou diante do armário onde estavam as capas, pensando: “Se levar uma, posso ir à pesca mesmo quando estiver chovendo” e agarrou portanto uma capa à sua medida e a colocou nos ombros.

Depois que tinha escolhido os presentes que queria, saiu com o filho do Rei Dragão da casa do tesouro e este lhe perguntou:

– Porque o senhor escolheu coisas tão simples, quando podia ter escolhido algumas pedras preciosas?

– Para mim, o ouro e a prata de nada servem – respondeu o tocador de flauta celestial, com um sorriso. – São coisas sem utilidade e que se desvalorizam com o tempo. Mas com esta capa e este cesto, agora posso ir à pesca todos os dias e por isso nunca mais passarei fome.

Ao regressar a sua casa o tocador de flauta celestial descobriu que, para sua grande surpresa, o cesto de bambu e a capa de chuva, afinal, não eram coisas comuns, mas sim tesouros preciosos. Pois a partir desse dia, sempre que voltava para casa vindo da pesca encontrava o cesto cheio de comida deliciosa, já pronta para comer. E quando queria ir até os mares do sul para pescar ou até os mares do leste para apanhar camarões, vestia a capa e ela o levava pelos ares até onde precisava ir.

Passados muitos anos, o tocador de flauta celestial, com a capa aos ombros e o cesto à cintura, voou até o alto da Montanha dos Cinco Dedos e ali se pôs a tocar sua flauta. O som que dela saía ressoava por entre as nuvens e desde então a sua música trouxe alegria e felicidade a todos os habitantes da terra que a podiam escutar.

Este conto tem origem na tradição oral chinesa, e a versão que compartilhamos aqui está publicada no livro “O Guerreiro Invisível e outros contos do Tempo”, do projeto Aprendendo com Histórias da Oficina Escola de Arte Granada.

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Como o mal gera o mal


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Houve certa vez um eremita que caminhava por um lugar deserto quando chegou a uma gruta enorme, cuja entrada não era facilmente visível. Decidiu descansar e entrou. Logo notou o brilhante reflexo da luz sobre um monte de ouro.

Assim que se deu conta do que tinha visto, o eremita começou a correr, fugindo o mais depressa que pôde.

Acontece que havia, naquele ponto do deserto, três ladrões que passavam muito tempo por ali com a intenção de roubar viajantes. Não tardou para que o homem piedoso passasse por eles. Os ladrões se surpreenderam, alarmaram-se até, vendo o homem correndo sem que ninguém o perseguisse. Saíram de seu esconderijo e o detiveram, perguntando-lhe o que estava acontecendo.

– Estou fugindo do diabo, irmãos – disse o eremita. – Ele está atrás de mim.

Os bandidos não conseguiram ver ninguém perseguindo o devoto.

– Mostra-nos quem está atrás de ti – disseram.

– Está bem, eu lhes mostro – falou o eremita, com medo deles.

E assim levou-os em direção à gruta, rogando-lhes que não se aproximassem dela. A essa altura, naturalmente, os ladrões estavam muito curiosos com a advertência e insistiram em ver o motivo de tanto alarme.

– Aqui está a morte que me perseguia – disse o ermitão.

Os malfeitores, é claro, ficaram encantados. Evidentemente consideraram o eremita meio louco e o deixaram ir, enquanto se felicitavam por sua boa sorte.

Em seguida começaram a discutir sobre o que deveriam fazer com o tesouro, pois tinham receio de deixá-lo novamente só. Decidiram por fim que um deles apanharia um pouco do ouro e iria à cidade, onde o trocaria por comida e outras coisas necessárias, e depois procederiam à divisão.

Um dos ladrões se apresentou voluntariamente para realizar a missão. Pensou consigo mesmo:

“Quando chegar à cidade poderei comer tudo o que quiser. Depois envenenarei o resto da comida. Assim os outros dois morrerão, e o tesouro será só meu.”

Na sua ausência, porém, os outros dois também tinham estado pensando.

Haviam decidido que, mal o espertalhão regressasse, o matariam. Depois comeriam sua comida e dividiriam o tesouro em duas partes, em vez de três.

No momento em que o pilantra chegou à gruta com as provisões, os outros dois caíram sobre ele e, a punhaladas, o mataram. A seguir comeram toda a comida, e morreram por causa do veneno que seu companheiro havia posto nela.

Dessa maneira, como o eremita predissera, o ouro realmente significava a morte para os que se deixavam influenciar por ele. E o tesouro permaneceu onde estava, naquela gruta, por muito tempo.

Existem muitas versões deste conto, em diferentes culturas e contextos. A versão que deu origem a esta tradução é italiana, do século XVI, e nos foi apresentada por Idries Shah em sua obra World Tales. No Brasil, foi publicada no livro Histórias da Tradição Sufi.

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Os três fios de ouro


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Uma vez, numa noite escura e silenciosa, uma daquelas noites em que a terra fica negra, as árvores parecem mãos retorcidas e o céu é de um azul escuro de meia noite, um velho cansado vinha cambaleando pela floresta, quase às cegas, protegendo-se dos galhos das árvores. Os ramos arranhavam seu rosto e ele trazia um pequeno lampião numa das mãos. A vela dentro do lampião tinha uma chama que ia ficando cada vez mais baixa. O homem tinha cabelos compridos, de um branco amarelado; seus dentes e unhas eram amarelos e rachados. Ele andava encurvado, carregando nas costas um saco de farinha.

O velho vinha se apoiando nas árvores, esforçando-se para avançar, respirando com dificuldade, agarrando-se nos troncos do caminho para avançar mais um pouco. Era como se estivesse remando; assim ia atravessando a floresta.

Cada osso dos seus pés ardia como fogo. As corujas nas árvores piavam acompanhando o gemido das suas articulações, à medida que ele seguia pela noite escura. Na distância, lá na frente, brilhava uma luzinha. Vinha de um chalé, um fogo, um lar, um lugar de descanso; e ele se esforçava para seguir adiante, na direção daquela luz. No exato instante em finalmente conseguiu chegar à porta o homem estava tão cansado, tão completamente exausto, que a pequena chama no seu lampião se apagou e o ele caiu porta adentro desmaiado.

Dentro da casa, uma velha estava sentada diante de uma bela lareira acesa, e se apressou para chegar até ele. Ela segurou-o nos braços e o levou para perto do fogo. A velha mulher o abraçou como uma mãe abraça o próprio filho. Sentou-se em sua cadeira de balanço e o embalou. E ali ficaram os dois, o pobre e frágil velhinho, pouco mais do que um saco de ossos, e a velha forte que o embalava.

– Pronto, pronto, pronto… Calma, calma… Shhh…

Ela o embalou a noite inteira e quando estava quase chegando a hora do amanhecer, o homem estava completamente remoçado. Ele agora era um belo rapaz, de cabelos dourados e membros longos e fortes. Mas ela ainda continuava a embalá-lo em seus braços.

– Pronto, pronto… Calma, calma… Shhh, shhh…

E à medida que a manhã ia se aproximando cada vez mais o rapaz foi se transformando numa linda criancinha de cabelos dourados, trançados como palha de milho.

No exato momento em que o o dia ia raiar, a velha arrancou bem rápido três fios de cabelo da linda cabeça da criança e os jogou na lareira. Cada um deles fez um barulhinho ao cair no fogo. Tiiiing! Tiiiing! Tiiiing!

E a criancinha nos seus braços desceu do seu colo e saiu correndo para a porta. Voltando o rosto por um instante para a velha, o menino deu um sorriso deslumbrante, virou-se e saiu voando para o céu, para se tornar o brilhante sol da manhã.

Uma versão deste conto encontra-se no livro de Clarissa Pinkola Estés, Mulheres que correm com os lobos. Esta versão foi recontada por nós da Oficina Escola de Arte Granada.

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A água do paraíso


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Harith, o Beduíno, e sua esposa Nafisa, mudando-se de um lugar para outro, armavam sua tenda de farrapos onde quer que encontrassem algumas tamareiras, pastagem rasteira para seu camelo, ou uma lagoa de água salobra. Por muitos anos, essa vinha sendo sua forma de vida, e Harith sempre variava sua rotina diária: caçava ratos do desrto por sua pele e trançava cordas com fibras de palmeira para vender às caravanas que passavam.

Um dia, contudo, uma nascente nova apareceu nas areias, e Harith levou um pouco daquela água à boca. Para ele parecia a Água do Paraíso, pois era muito menos turva do que a que costumava beber. Para nós teria parecido repulsivamente salgada.

“Preciso levar essa água para alguém que vai apreciá-la”, disse.

Assim, partiu para Bagdá, para o palácio de Harun Al-Rashid, viajando sem parar, a não ser para mastigar algumas tâmaras. Harith levava dois odres de couro de cabra com a água: um para ele mesmo, e o outro para o califa.

Dias depois chegou a Bagdá e marchou direto para o palácio. Os guardas ouviram sua história e, apenas porque era uma regra, admitiram-no à audiência pública de Harun.

“Comandante dos Crentes”, disse Harith, “sou um pobre beduíno e conheço todas as águas do deserto, embora saiba pouco sobre outras coisas. Acabo de descobrir essa Água do Paraíso e, concluindo que seria um presente adequado para vós, vim imediatamente trazê-la como uma oferenda.”

Harun, o Sincero, provou da água e, como compreendia seu povo, ordenou aos guardas que levassem Harith e o detivessem por algum tempo até que anunciasse sua decisão. Então, chamou o capitão da guarda e lhe disse:

“O que para nós é nada, para ele é tudo. Portanto, leve-o do palácio à noite. Não deixe que ele veja o poderoso Rio Tigre. Escolte-o por todo o caminho até sua tenda, sem permitir que prove da água doce. Então dê a ele mil moedas de ouro e meu agradecimento por seu serviço. Diga-lhe que é o guardião da Água do Paraíso e que a ofereça gratuitamente a qualquer viajante, em meu nome.”

Este conto encontra-se no livro Histórias dos Dervixes, de Idries Shah, publicado em português pela Editora Tabla. Segundo o autor, é também conhecido como “A História dos Dois Mundos”.

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O elefante no escuro


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Era uma vez um elefante de circo que se exibia por cidades e povoados de vários países. Um dia, chegou a uma pequena comunidade onde nunca haviam visto um animal semelhante. Alojaram o elefante em um estábulo fechado, enquanto anunciavam sua chegada ao povo do lugar.

Quatro curiosos, ao saberem da existência daquela maravilha, decidiram vê-lo antes dos demais e invadiram o estábulo. Mas como não havia luz, sua investigação teve que se realizar aos toques. Assim, no meio da escuridão, um deles tocou a tromba, o segundo a orelha, o terceiro a pata e o quarto o rabo.

Logo, muito entusiasmados, foram contar às pessoas do povoado o que haviam averiguado.

O que havia tocado a tromba disse:

– É… Como uma espécie de mangueira.

O que se detivera na orelha afirmou:

– Um elefante é como um leque.O que apalpou a pata retrucou:

– Um leque? Eu o examinei, e é uma coluna viva.

Por último, o que havia tateado o rabo concluiu:

– Vocês todos estão enganados, um elefante é uma corda.

Nenhum deles pôde ter ideia do que era um elefante. Por outro lado, só podiam falar da parte que haviam tocado, fazendo referência a objetos que conheciam. 

O resultado foi uma confusão total. Cada um queria ter a razão, e ao final ninguém pôde saber o que era que tinham averiguado.

* Este conto já foi publicado em diversas edições e coletâneas de contos. Tal como está aqui, encontra-se no livro O Guerreiro Invisível e outros contos do Tempo, da Oficina Escola de Arte Granada, publicado pela Editora Jaguatirica.

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Um conto de Anansi


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Entre os Ashantis, antigo e nobre povo de Ghana, na África Ocidental, há muitas histórias que contam as aventuras e desventuras de Kuaku Anansi. Anansi é uma aranha e é um homem; é um homem, e uma aranha.

Houve uma época em que Anansi tinha seis filhos. O primeiro se chamava Enxerga Encrenca, pois ele tinha o dom de enxergar encrencas, grandes e pequenas, mesmo a uma longa distância. O outro filho era o Fazedor de Estradas. O terceiro, Bebedor de Rios. O quarto era o Descascador e o quinto, Lançador de Pedras. Por último havia o Almofada, que era muito macio. Todos eles eram bons filhos de Anansi.

Um dia, Kuaku Anansi saiu de casa e foi para bem longe, tão longe que acabou se perdendo. E, como não podia deixar de ser… Ele se meteu em uma encrenca.

“Papai está correndo perigo!” Enxerga Encrenca logo soube e disse aos seus irmãos.

Fazedor de Estradas então lhe pediu que indicasse a direção da encrenca e disse aos outros:

“Sigam-me”.

E lá foi ele, construindo uma estrada.

Eles foram bem rápido, os seis irmãos, para ajudar Anansi, e ao chegarem descobriram que ele havia sido engolido por um peixe do rio.

O Bebedor de Rios se aproximou das águas e deu um grande, grande gole, até que não havia mais rio nenhum, e no leito do rio eles viram o peixe que tinha engolido Kuaku Anansi.

O Descascador então tirou toda a pele do peixe, e lá estava ele!

Mas foi aí que surgiu mais um problema… Era um falcão, que veio voando, deu um rasante e pegou Anansi em seu bico, levando-o para bem alto no céu.

“Rápido, Lançador de Pedras!”, disseram os irmãos.

Lançador de Pedras era muito bom de pontaria e acertou uma pedra no falcão em pleno voo. O falcão deu um grito e deixou cair Anansi, e ele foi caindo, caindo…

Almofada foi correndo para ajudar o pai, olhando bem para cima para ver onde ele ia cair. E assim Anansi teve uma queda suave e macia.

Ah, eles ficaram muito felizes, aquela família de aranhas!

De volta em casa, naquela noite, Kuaku Anansi viu uma coisa brilhando no meio da floresta.
“O que é isso?”, ele pensou.

Era um grande globo de luz, misterioso e lindo.

“Vou levar e dar de presente para o meu filho”, disse Anansi. “Para o filho que me salvou. Mas… Qual dos seis filhos? Qual merece esse prêmio?”

Ele então pediu ajuda a Nhame, que para os Ashantis é o Deus de Todas as Coisas:

“Nhame, por favor, segure esse globo de luz até que eu saiba para qual dos meus filhos devo dá-lo de presente”.

Então eles tentaram decidir qual dos filhos merecia o prêmio. Tentaram e tentaram, mas não conseguiram decidir. 

Nhame, o Deus de Todas as Coisas, viu que eles não podiam decidir um único filho de Anansi para ganhar o prêmio. Ele então levou a linda luz branca para o alto do céu, e a guardou lá, para que todos a vissem. Ela ainda está lá, e sempre vai estar.

* Encontramos este conto pesquisando histórias de Anansi no YouTube. Achamos este belo vídeo de animação, em que Athmani Magoma não só conta, em inglês, esse conto de Anansi, como faz uma introdução à cultura Ashanti e aos contos folclóricos da África Ocidental.

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O segredo da madeira


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Era uma vez um mestre carpinteiro que fazia objetos de madeira tão belos a ponto de o imperador lhe perguntar qual o segredo de sua arte.

– Alteza – disse o carpinteiro, – não existe nenhum segredo. Mas eu posso lhe relatar como trabalho. É assim que eu começo: quando vou fazer uma mesa, primeiro reúno as energias e trago a mente para a quietude absoluta. Desconsidero qualquer recompensa a ser ganha ou fama a ser adquirida. Quando estou livre das influências de todas essas considerações exteriores, posso escutar claramente a voz interna que me diz claramente o que devo fazer.

Quando minhas habilidades estão assim concentradas, pego meu machado. Asseguro-me de que ele esteja bem afiado, que se adapte à minha mão e balance com meu braço. Então eu entro na floresta.

Procuro a árvore certa: aquela que está esperando para se tornar a minha mesa. E quando a encontro, pergunto:

– O que eu tenho para você e o que você tem para mim?

Então corto a árvore e começo a trabalhar. Eu me lembro de como meus mestres me ensinaram a coordenar minha habilidade e meu pensamento com as qualidades naturais da madeira.
O imperador disse:

– Quando a mesa está pronta, tem um efeito mágico sobre mim. Não posso olhar para ela como olharia para qualquer outra mesa. Qual é a natureza dessa mágica?

– Majestade – disse o carpinteiro, – o que o senhor chama de mágica vem apenas disso que acabo de lhe contar.

* Originalmente, este conto encontra-se no livro A Way of Working, de Doo Ling, D.M. Em português, nos foi apresentado por Regina Machado em seu Acordais: Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. Esta obra foi relançada pela Cia. das Letras em 2015 com o título A arte da palavra e da escuta.

** A imagem que escolhemos para ilustrar o conto é uma pintura de Nira Grillo, óleo sobre tela.

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A história de um feito extraordinário


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Há muitos anos, em Medina, houve uma discussão entre um mercador e seu cliente. Naquela época, todas as lojas ficavam abertas para a rua, de modo que quando em um momento de fúria o comerciante deu uma bofetada no cliente, o fez diante de várias testemunhas. Apenas uma bofetada na cara, e quando o homem caiu no chão já estava morto. Reuniu-se uma multidão. Naquele tempo a justiça era imediata. Se uma pessoa tirava a vida de outra, pagava com sua própria vida.

O homem disse:

– Eu só bati nele, não pretendia matá-lo. Conheço a lei, e eu também devo morrer, mas antes que se faça justiça quero pedir uma coisa. Tenho dois órfãos sob meus cuidados, e precisaria de tempo para arranjar sua situação, seus cuidados e minha herança.

– Isso é impossível – disse o juiz. – Você acaba de matar um homem, não pode deixar este lugar.

Finalmente, e depois de escutar algumas opiniões, o juiz aceitou postergar a execução se o homem pudesse encontrar alguém que ocupasse seu lugar. O homem procurou com o olhar em meio à multidão, que já somava centenas de pessoas, e se deteve no rosto de um homem.

– Ele responderá por mim – disse o vendedor apontando para o homem.

– Você responderá por este homem? – perguntou o juiz.

 O homem olhou ao seu redor até estar seguro de que a pergunta era dirigida a ele, e respondeu:

– Sim.

O homem ficou sob custódia e o mercador, montando em seu cavalo, partiu a galope.

– Você conhece esse comerciante? – perguntou o juiz.

– Não.

– Então você deve conhecer o homem que morreu.

– Não.

– Mas como assim? Não entendo. Você se dá conta de que ficou como garantia desse homem, e que se ele não voltar será você o executado?

– Entendo perfeitamente – respondeu.

– Mas o que é que o faz arriscar sua vida desse jeito? – perguntou o juiz.

– O comerciante estava em grande dificuldade. Buscou nessa multidão e me escolheu. Entre essas centenas de pessoas, escolheu a mim para ajudá-lo em sua necessidade. Eu não podia me negar.

Passaram-se as horas. A multidão estava ansiosa. O mercador não voltava. Finalmente, se avistou a poeira de seu cavalo e pouco depois o homem entrava a galope no mercado.

– Desculpem meu atraso – exclamou. – Mas demorei todo esse tempo para encontrar alguém que aceitasse tomar conta dos órfãos que tenho sob meus cuidados.

O juiz e a multidão ficaram tão perplexos e comovidos com a honestidade desses dois homens, que a família do homem morto até mesmo perdoou a vida daquele mercador.

Este conto está publicado na coletânea O Guerreiro Invisível e outros contos do Tempo, da Editora Jaguatirica, uma publicação do projeto Aprendendo com Histórias da Oficina Escola de Arte Granada.

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A Espada de Madeira


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A muito, muito tempo atrás, em uma noite de verão no Afeganistão, o rei decidiu sair de seu palácio e andar pela cidade para respirar um pouco de ar puro. Trocou então seus trajes reais por uns andrajos e assim vestido saiu, sozinho. Caminhou bastante, até chegar a uma região pobre no limite da cidade. Depois de um tempo, sentindo muito calor, reparou que brilhava uma luz pela janela de uma pequena casa; de lá vinha também uma bela voz que cantava chegando até seus ouvidos. O rei se aproximou e, olhando pela janela, viu um homem sentado à mesa, ao lado de sua esposa. Na mesa havia diferentes tipos de frutas e saladas e uma pequena jarra d’água. O homem bebeu um gole de água, provou algumas frutas e cantou cantos de louvor a Deus.

O rei ficou ali parado na janela O rei ficou ali parado na janela por alguns minutos, perplexo diante da paz e serenidade desse homem, e se perguntou qual poderia ser a fonte de sua felicidade. Então bateu à porta e quando lá de dentro perguntaram quem era ele disse que era um andarilho, e pediu para entrar e se refrescar um pouco. O homem, então, abriu imediatamente a porta e o convidou para dentro. Ofereceu-lhe comidas e bebidas e continuou com seu jeito alegre. Depois de um tempo, o rei perguntou ao seu anfitrião qual era o seu trabalho, e o homem respondeu:

“Sou um pobre judeu. Caminho pelas ruas durante o dia e conserto sapatos, e com o que consigo ganhar compro o suficiente para sustentar a mim e a minha esposa.”

O rei disse:

“Mas o que vai acontecer quando ficar velho e não puder mais trabalhar?”

“Não preciso me preocupar, pois há alguém que toma conta de mim”, disse o homem.

Essa resposta pegou o rei de surpresa.

“Quem é esse guardião? Vejo que você e sua esposa estão sozinhos em casa e que não têm filhos. E mesmo que vocês venham a ter filhos, vai demorar muitos anos até que eles cresçam.”

O homem sorriu e disse:

“Não é uma pessoa que me protege, e sim Deus, que Seu Nome seja para sempre louvado e abençoado.”

O rei riu ao ouvir isso, então se levantou e disse:

“Está tarde, eu preciso ir. Mas se voltar novamente aqui, ainda serei bem-vindo?”

O homem lhe disse que sim, seria bem-vindo a qualquer momento.

O rei voltou ao palácio e decidiu testar esse homem, para ver como ele se sairia em tempos de adversidade. Proclamou então um decreto proibindo que se consertasse sapatos na rua. No dia seguinte, quando o homem acordou e foi para a cidade, ficou pasmo ao ver que havia uma ordem proibindo que trabalhasse para conseguir seu sustento. Levantou os olhos para o céu e disse:

“Senhor, a porta para o meu sustento acaba de ser fechada. Mas tenho certeza de que Você abrirá alguma outra para substituí-la.”

Ao olhar em volta, viu um homem carregando um jarro de água e decidiu que daquele dia em diante também seria carregador de água. Foi até o mercado e comprou um jarro, depois foi ao poço, encheu-o e o levou de volta para a cidade até encontrar alguém que precisasse da água, e fez isso durante todo aquele dia. Quando chegou a noite, ele viu que tinha tanto dinheiro quanto de costume, o suficiente para comprar comida para si mesmo e sua esposa.

Naquela noite, o rei voltou à casa do judeu para ver como tinha se virado depois que a ordem real fora dada. Ficou assombrado ao olhar pela janela e ver que o homem estava tão feliz quanto antes. Então foi até a porta e bateu, e o homem o convidou para se juntar a eles na mesa. O rei então disse:

“O que você fez hoje? Pois certamente deve ter visto o anúncio do rei.”

O homem respondeu:

“O Sagrado, louvado seja Ele, não me abandonou, e como o rei me fechou uma porta, Deus abriu outra para substituí-la.”

Assim, contou ao rei que havia se tornado vendedor de água e como tinha ido bem em seu trabalho.

Depois de um tempo o rei se despediu e voltou ao palácio. No dia seguinte, proclamou um decreto de que estava proibido vender água na cidade, e que daquele dia em diante cada pessoa deveria ir tirar água do poço para si mesma.

Quando o homem voltou ao poço, descobriu que sua nova ocupação fora proibida pelo rei. E enquanto estava ali, pensando no que poderia fazer, um grupo de lenhadores passaram por ele a caminho da floresta para cortar lenha. Ele perguntou se podia ir com eles, e disseram que sim. Assim foi que durante todo aquele dia trabalhou duro cortando lenha e, no fim da tarde, quando vendeu o que havia cortado, ele viu que conseguira amealhar tanto dinheiro quanto conseguia consertando sapatos e vendendo água.

No final do dia o rei voltou à sua casa, curioso para saber como ele tinha se saído naquele dia. Quando soube que o homem conseguira um novo trabalho, decidiu criar um novo plano para testá-lo. No dia seguinte, chamou o capitão da guarda e disse:

“Leve seus soldados até a estrada que conduz à floresta, mande parar todos os lenhadores que estiverem passando e traga-os até o palácio. Vista-os então como guardas, lhes dê espadas, e faça com que montem guarda no palácio.”

O capitão da guarda fez como o rei comandara, e entre os lenhadores que foram trazidos ao palácio estava o judeu. Os lenhadores mantiveram guarda durante todo aquele dia, e de noite os novos guardas foram enviados para casa com seus novos uniformes e espadas. Mas não receberam nenhum pagamento, pois os guardas só recebem o seu salário uma vez por mês.

Assim foi que o judeu voltou para casa de mãos vazias e sem saber o que fazer, pois não tinha o suficiente para viver por mais um dia, que dirá por um mês inteiro. Mas nesse mesmo instante teve uma ideia e pôs-se a trabalhar: esculpiu uma espada de madeira, como as que ele brincava quando era criança, do mesmo tamanho e formato daquela que havia recebido do rei, e a colocou dentro da bainha. Saiu então com a espada do rei e vendeu-a, e com o dinheiro que conseguiu tinha o suficiente para viver até o fim do mês. Depois, foi ao mercado e comprou comidas e bebidas para si e sua esposa e voltou para casa feliz.

Qual não foi a surpresa do rei naquela noite, quando voltou à casa do judeu e o encontrou sentado à mesa como de costume, alegremente cantando canções de louvor a Deus, como se não tivesse nenhuma preocupação na vida. O rei lhe perguntou o que ele havia feito naquele dia e o homem contou-lhe tudo.

O rei então disse:

“E o que você vai fazer se o rei ficar sabendo sobre a espada?”

O homem respondeu:

“Eu não me preocupo com coisas que ainda não aconteceram. Simplesmente confio que Deus não há de me abandonar, e minha confiança n’Ele é forte.”

No dia seguinte, quando os guardas do palácio chegaram aos seus postos, o rei ordenou que se dirigissem todos ao centro da cidade, pois um homem seria executado naquele dia e era costume que todos os cidadãos fossem assistir ao cumprimento da sentença. Quando todos haviam se reunido e a execução estava prestes a acontecer, o rei ordenou que o judeu fosse chamado para cortar a cabeça do condenado, que havia roubado um melão dos jardins do palácio do rei. Ao ouvir isso, o homem ficou muito assustado e disse ao oficial que lhe dera a ordem:

“Não me peça para fazer isso, nunca matei sequer uma mosca!”

“É uma ordem do rei e você deve obedecer, caso contrário é você quem perderá a cabeça!”, disse o oficial.

Quando o homem viu que não havia saída, pediu que lhe fossem concedidos alguns minutos para rezar a Deus, pedindo que lhe desse coragem, e então faria o que lhe era pedido.

O judeu então pôs-se de pé diante da multidão e começou a rezar em silêncio. Depois, levantou os olhos para o céu e disse em voz alta:

“Meu Senhor, você me conhece muito bem, e sabe que nunca matei ninguém em toda a minha vida, e agora tenho a obrigação de fazer isso. Por favor, Senhor, se este homem na minha frente for culpado do que lhe acusam, permita-me desembainhar minha espada e cortar sua cabeça de um só golpe. Mas se não for culpado, Senhor, faz com que minha espada se transforme em madeira, como sinal de sua inocência.”

A esta altura, todos os olhos estavam fixos no judeu. Ele desembainhou sua espada e segurou-a bem alto. Quando todos viram que era uma espada de madeira, a multidão, que prendia a respiração, suspirou surpreendida, e em seguida começaram a bater palmas e gritar emocionados, pois imaginaram que era um milagre que acabavam de presenciar.

O rei ficou exultante ao perceber a sabedoria do homem, então chamou-o para perto de si e disse:

“Você me reconhece?”

O judeu olhou bem para o rei e disse, enfim:

“É o meu convidado! Foi você quem veio visitar minha casa quatro vezes!”

E o rei disse:

“É isso mesmo, e de agora em diante será você o meu convidado, pois vejo que é um homem de grande sabedoria, cuja confiança em Deus é forte e inabalável. Quero fazer de você minha mão direita e sempre ouvir os seus conselhos.”

E foi assim que o judeu e sua mulher foram viver no palácio, onde ele se tornou o conselheiro de confiança do rei. E tudo isso aconteceu graças a sua firme confiança em Deus, que seu nome seja abençoado para todo o sempre.

Fonte: Afeganistão
Tradição Oral
Versão encontrada no livro ‘Elijah’s Violin and other Jewish Fairy Tales’, de contos selecionadas e recontadas por Howard Schwartz

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A Princesa da Água da Vida


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Era uma vez, quando não havia tempo, no País do Lugar Nenhum, uma pobre garota chamada Raida, que vivia solitária em uma pequena cabana.

Um dia, caminhando pelo bosque, Raida viu que um enxame de abelhas havia abandonado sua colméia, e decidiu recolher o mel.

“Levarei este mel ao mercado e o venderei. Com o dinheiro que conseguir procurarei melhorar minha vida”, disse para si mesma.

Raida correu para casa e voltou com um pote, enchendo-o de mel. Ela não sabia no entanto que a causa de sua pobreza era um gênio maléfico que tentava por todos os meios impedir que ela tivesse êxito em qualquer coisa.

O gênio acordou quando alguma coisa lhe disse que Raida estava começando a fazer algo de útil. Ele correu ao lugar onde ela se encontrava com a intenção de causar-lhe problemas. Logo que viu Raida com o mel o gênio se transformou em um galho de árvore e empurrou seu braço, de maneira que o pote caiu e se quebrou, entornando todo o mel. O gênio, ainda sob a forma de um galho, ria-se com satisfação, balançando-se de um lado para outro.

“Isto a deixará furiosa”, disse para si mesmo.

Mas ela apenas contemplou o mel e pensou:

“Não importa, as formigas vão comer o mel, e talvez algo surja disso.”

Raida tinha visto uma fileira de formigas cujas exploradoras já estavam experimentando o mel para ver se lhes seria útil. Quando começou a atravessar a floresta, no caminho de volta para a sua cabana, Raida notou que um cavaleiro estava vindo em sua direção.

Quando estava apenas a alguns metros dela, o homem levantou o chicote displicentemente e, ao passar, bateu num galho. Raida viu que era uma árvore de amoras, e que o golpe tinha feito com que frutas maduras caíssem no chão. Ela pensou:

“Boa idéia. Recolherei as amoras e as levarei ao mercado para vendê-las. Talvez algo surja disso.”

O gênio a viu juntando as frutas e riu-se por dentro. Quando ela terminou de encher seu cesto ele se transformou em um burro e a seguiu silenciosamente pelo caminho que levava ao mercado.

Quando Raida se sentou para descansar, o gênio sob a forma de burro aproximou-se, esfregando o focinho em seu braço. Raida bateu-lhe no focinho, e então de repente a horrível criatura se jogou sobre o cesto de amoras, esmagando-as até a polpa. O suco espalhou-se pelo caminho, e o falso burro afastou-se galopando alegremente entre os arbustos.

Raida olhou para as frutas com desânimo. Nesse momento no entanto a rainha estava passando por ali, a caminho da capital.

– Detenham-se imediatamente! – ordenou aos carregadores da liteira. – Essa jovem perdeu tudo. Seu burro esmagou as frutas e fugiu. Ela estará perdida se não a ajudarmos.

Assim foi que a rainha convidou Raida a subir na sua liteira, e rapidamente se tornaram amigas. A rainha deu uma casa a Raida, e logo ela se converteu em uma próspera comerciante, por seus próprios méritos.

Quando o gênio viu como as coisas estavam indo bem para Raida, deu uma boa examinada na casa para ver o que poderia fazer para arruína-la. Ele percebeu que todas as mercadorias eram guardadas em um armazém atrás da casa. De modo que botou fogo na casa e no armazém, que se queimaram até os alicerces em menos tempo do que se leva para contar.

Raida saiu da casa correndo quando sentiu o cheiro da fumaça, e contemplou as ruínas com pesar. Então percebeu que uma fila de pequenas formigas estava se formando. Elas carregavam grão a grão sua reserva de milho, que estivera embaixo da casa, para outro local de maior segurança. Para ajudá-las, Raida ergueu uma grande pedra que cobria o formigueiro, e debaixo dela brotou uma fonte de água. Enquanto Raida a experimentava as pessoas da cidade iam se juntando à sua volta, exclamando:

– A água da Vida! Isto é o que foi profetizado!

Elas contaram à Raida como havia sido profetizado que, um dia, depois de um incêndio e de muitos desastres, uma fonte seria encontrada por uma jovem que não se afligia com as calamidades que lhe aconteciam. Esta seria a última fonte da vida.

E foi assim que Raida se tornou conhecida como a Princesa da Água da Vida, da qual até hoje é a guardiã. Essa água pode ser bebida para dar imortalidade àqueles que a encontram, por não se impressionarem pelas calamidades que lhes possam ocorrer.

* Esta versão do conto encontra-se publicada no livro Histórias da Tradição Sufi (Editora Dervish, 1997), com colaboração do Grupo Granada de Contadores de Histórias. O conto foi lançado originalmente no livro Buscador da Verdade, de Idries Shah, publicado no Brasil pela Editora Tabla em 2017. Uma versão narrada e musicada encontra-se no CD de histórias do Projeto Aprendendo com Histórias, da Escola Granada, “A Montanha de Jade e outros contos do mundo”.