
Entre os Ashantis, antigo e nobre povo de Ghana, na África Ocidental, há muitas histórias que contam as aventuras e desventuras de Kuaku Anansi. Anansi é uma aranha e é um homem; é um homem, e uma aranha.
Houve uma época em que Anansi tinha seis filhos. O primeiro se chamava Enxerga Encrenca, pois ele tinha o dom de enxergar encrencas, grandes e pequenas, mesmo a uma longa distância. O outro filho era o Fazedor de Estradas. O terceiro, Bebedor de Rios. O quarto era o Descascador e o quinto, Lançador de Pedras. Por último havia o Almofada, que era muito macio. Todos eles eram bons filhos de Anansi.
Um dia, Kuaku Anansi saiu de casa e foi para bem longe, tão longe que acabou se perdendo. E, como não podia deixar de ser… Ele se meteu em uma encrenca.
“Papai está correndo perigo!” Enxerga Encrenca logo soube e disse aos seus irmãos.
Fazedor de Estradas então lhe pediu que indicasse a direção da encrenca e disse aos outros:
“Sigam-me”.
E lá foi ele, construindo uma estrada.
Eles foram bem rápido, os seis irmãos, para ajudar Anansi, e ao chegarem descobriram que ele havia sido engolido por um peixe do rio.
O Bebedor de Rios se aproximou das águas e deu um grande, grande gole, até que não havia mais rio nenhum, e no leito do rio eles viram o peixe que tinha engolido Kuaku Anansi.
O Descascador então tirou toda a pele do peixe, e lá estava ele!
Mas foi aí que surgiu mais um problema… Era um falcão, que veio voando, deu um rasante e pegou Anansi em seu bico, levando-o para bem alto no céu.
“Rápido, Lançador de Pedras!”, disseram os irmãos.
Lançador de Pedras era muito bom de pontaria e acertou uma pedra no falcão em pleno voo. O falcão deu um grito e deixou cair Anansi, e ele foi caindo, caindo…
Almofada foi correndo para ajudar o pai, olhando bem para cima para ver onde ele ia cair. E assim Anansi teve uma queda suave e macia.
Ah, eles ficaram muito felizes, aquela família de aranhas!
De volta em casa, naquela noite, Kuaku Anansi viu uma coisa brilhando no meio da floresta.
“O que é isso?”, ele pensou.
Era um grande globo de luz, misterioso e lindo.
“Vou levar e dar de presente para o meu filho”, disse Anansi. “Para o filho que me salvou. Mas… Qual dos seis filhos? Qual merece esse prêmio?”
Ele então pediu ajuda a Nhame, que para os Ashantis é o Deus de Todas as Coisas:
“Nhame, por favor, segure esse globo de luz até que eu saiba para qual dos meus filhos devo dá-lo de presente”.
Então eles tentaram decidir qual dos filhos merecia o prêmio. Tentaram e tentaram, mas não conseguiram decidir.
Nhame, o Deus de Todas as Coisas, viu que eles não podiam decidir um único filho de Anansi para ganhar o prêmio. Ele então levou a linda luz branca para o alto do céu, e a guardou lá, para que todos a vissem. Ela ainda está lá, e sempre vai estar.
* Encontramos este conto pesquisando histórias de Anansi no YouTube. Achamos este belo vídeo de animação, em que Athmani Magoma não só conta, em inglês, esse conto de Anansi, como faz uma introdução à cultura Ashanti e aos contos folclóricos da África Ocidental.